11 de novembro de 2009

Caciques, currais e presepadas eleitorais

Artigo de nossa autoria gentilmente publicado no Jornal do Tocantins de 6ª-feira, 6/11/2009.

Houve um tempo na política tocantinense em que práticas das mais absurdas eram lugar comum. De fato, ainda hoje veem-se muitas destas práticas correndo soltas por aí, a despeito do amadurecimento político do Brasil e do próprio estado do Tocantins.

Uma delas é o que podemos chamar de paraquedismo eleitoral. O sujeito mora em outro estado, tem sua vida, seu trabalho, sua família, seus amigos lá, mas dentro do prazo legal transfere seu título de eleitor e seu domicílio eleitoral para cá, a fim de disputar um mandato qualquer, provavelmente com muito dinheiro e muito pouco compromisso.

Você, eleitor inteligente e bem informado já percebeu que o sujeito de que estamos falando é o técnico do Santos, Vanderlei Luxemburgo. Já deve ter deduzido também que estamos a nos posicionar contra este tipo de atitude. Pessoalmente, não temos nada contra o senhor Luxemburgo, mesmo porquê não o conhecemos pessoalmente. Profissional e futebolisticamente, pode haver controvérsias, mas isto não vem ao caso. Politicamente, talvez ele até se tornasse um bom representante político do povo tocantino, se começasse da maneira correta.

Bem representar
Por outras palavras, caso ele realmente quisesse ser um representante legítimo do Tocantins, o certo seria mudar-se para cá, talvez até abrir um negócio que gerasse emprego aqui, quem sabe administrar um de nossos combalidos mas resistentes clubes de futebol e, porventura, fazer um trabalho social-esportivo com crianças de baixa renda. Aí, sim, após 2, 3, 4 anos de bons serviços prestados ao estado, de plena cidadania tocantinense, colocar seu nome à disposição do eleitorado, de nós cidadãos do Tocantins de direito e de fato.

Você pode alegar que isso até poderia acontecer num mundo ideal, utópico mesmo. Mas no início do século XIX, o fim da escravidão era uma idealismo; no início do século XX, o voto feminino era utopia; e há não muito tempo realizar uma olimpíada no Brasil estava fora de questão. Frequentemente são os utópicos, idealistas que fazem com que o mundo melhore, que a sociedade avance em suas conquistas. Exemplo atual é a revolução que está em curso na seara do meio ambiente, com toda a sociedade abraçando uma causa que no passado era apenas defendida por alguns poucos utópicos idealistas, com seu pensamento de vanguarda.

A parte da justiça
Claro que a justiça também faz sua parte, e felizmente, a justiça eleitoral do Tocantins tem demonstrado coerência, sensatez e lucidez, ao não permitir que o senhor Luxemburgo caia de para-quedas aqui e venha a concorrer a algum mandato eletivo em 2010. Se a decisão permanecer não repetiremos no Tocantins o caso do Amapá, que há anos elege sucessivamente um cacique político do Maranhão ao Senado Federal, o senhor José Sarney, que nada tinha a ver com aquele estado e que no entanto conseguiu lá construir mais um curral eleitoral.

E aqui peço perdão aos povos indígenas que não mereceriam ter suas maiores autoridades, os caciques, associadas ao que há de mais retrógrado e ultrapassado na política do país. Afinal, co yvy ore retama!

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